De volta ao Tridente no Leituras Negras de Porto Alegre

Anunciei o “próximo pôste” e desapareci do blogue. Desculpem-me. É que estive no Rio de Janeiro, acompanhando o Cine CUFA, Festival de Cinema da Central Única das Favelas, dentre outras cositas. Fascinante. Muita coisa para escrever e contar, mas sem prometer quando o farei. A estada no Rio foi muito produtiva e até meados de outubro anunciarei os trabalhos novos acertados por lá, veredas dramatúrgicas, na melhor companhia, a Companhia dos Comuns, de Hilton Cobra, querido Cobrinha. Por hora, voltemos ao Tridente no Leituras Negras de Porto Alegre, ocorrido dia 22 de agosto passado. O Paulo, muito gentil, enviou-me um “relatório” do que foi discutido por lá. Estão vendo, não é só em Passo Fundo que a gente é lida, em Porto Alegre também e com que atenção. O grupo me dirigiu três questões, duas diretas e outra mais subjetiva. Um comentário apenas, mas calou fundo em meu coração mineiro e eu o transformei em questão. Vou comentá-la por último. O primeiro tema é “Dublê de Ogum”, crônica ou conto? Como foi construído? Oswald de Andrade dizia que o “texto é aquilo que o autor quiser que ele seja”. Eu, quando escrevi o Tridente, achei que tudo era crônica. Em larga medida por insegurança e por desconhecimento da estrutura do conto. Leio um monte de textos que se definem como contos e acho que são crônicas, mas se os autores dizem que são contos, devem ser. Parece que na literatura contemporânea os limites definidores entre um gênero de texto e outro são muito tênues. Isso dizem os entendidos em literatura. É óbvio que o Oswald tinha autoridade para deixar a definição de gênero literário por conta dos autores, mas tendo a achar que a coisa não é tão simples assim. E acato o que várias pessoas me disseram a respeito do meu primeiro livro, “fiz um livro de crônicas composto por vários contos também”. Parece que um conceito que nos livra dessa definição é o de “histórias curtas”. Por isso tenho dito que meu segundo livro (ainda sem editora, por isso não divulgo o título) é composto por crônicas, contos e mini-contos sobre amor e solidão, vistos por diferentes olhares de mulheres (de alguns homens também), ora ácidos, ora líricos e ora ácido-humorados. Para concluir, hoje já sei um pouco melhor o que é um conto e considero o “Dublê de Ogum” como um deles. O segundo tema versa sobre minha relação com Monteiro Lobato, depois de descobrir traços racistas em sua obra e personalidade. Minha posição é similar à da narradora do texto (Histórias da vó Dita), os olhos da crítica entraram em ação, logo após os olhos da diversão. Continuei adorando o Sítio do Pica-pau amarelo, mas leio os texto com olhos críticos, coisa que quando criança e adolescente não fazia. Outro dia, lendo o “Toda Crônica”, dois tomos que reúnem todas as crônicas publicadas por Lima Barreto, até em jornal universitário da Faculdade de Engenharia onde estudou, que foi Monteiro Lobato, a primeira pessoa a investir nele como escritor, remunerando seu trabalho. Idiossincrático, não? O terceiro tema, transformado em questão quase existencial, para mim, refere-se a “Angu à Baiana”. Algumas pessoas do grupo acharam o texto chato e sem-graça, outras o acharam espirituoso e criativo, mas mesmo essas caracterizaram o angu como uma comida sem-graça. Blasfêmia. Coisa de gaúcho, me desculpem dizer. Só não aprecia angu, quem não cresceu comendo angu. E vocês, queridos amigos e amigas gaúchos, não tiveram essa graça. Podem dizer o que quiserem dos meus textos, coisas negativas, negativíssimas, mas diminuir a força poética e degustativa do angu, iguaria banto-mineira, isso não. Tenho dito. (arte: Iléa Ferraz)

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