Quer comprar a mulher do escritor?

Compre, ele está vendendo. E eu li os textos do cabra. E gostei. Bem disse alguém que às vezes é melhor conhecer a obra e deixar no obscurantismo o autor. É o caso desse infeliz. Infeliz, mesmo. Parece que felicidade ele só conheceu com essa mulher que está à venda. “Olhem, estou louco para esta palestra terminar porque estou amando. Amando, entenderam bem? Viu fulano, viu peixano? Eu estou a-man-do, a-pai-xo-na-do”. Faz um bico murcho e endereça um beijinho a um canto da audiência. Alguém pergunta sobre o processo de criação do maledeto e a resposta é que não tem processo, é anárquico, mas quando está amando, como agora, torna-se preguiçoso, só tem ânimo para amar. Manda mais um beijinho chocho pro mesmo canto. Dessa vez, várias cabeças, inclusive a minha, olham para o dito canto, para ver se enxergam a moça. Se é que é uma moça. Deve ser, se não fosse ele não vendia assim em praça pública. A tal fica quieta, não se entrega. Fazem outra pergunta, ele não responde e aproveita para esculhambar as editoras que não souberam reconhecer a genialidade dele. Todas as inovações de linguagem e tal e tal. Um novo Guimarães Rosa, disse um crítico. Disso ele se lembra. Sabe sobrenome e endereço institucional do jornalista. Termina a palestra e ele praticamente pula do palco para a platéia e os lábios murchos vão direto ao encontro dos lábios (humm, carnudos) da amada. Todo mundo acompanha, sem disfarce. Ela não rejeita o beijo, mas parece passar-lhe um pito. Nos sentimos vingados, é uma mulher interessante, só lamentamos que esteja com aquele bobão. Além de interessante, é bonita, distribui elegância em gestos econômicos. Os outros palestrantes, civilizadamente, descem do palco e o escritor age como se o pito não tivesse sido com ele. Como um desequilibrado ele se posta atrás dela, cutuca dois dos palestrantes e põe o dedo indicador sobre a cabeça da mulher, “É ela, o meu amor”. Ela percebe e se dirige aos convivas: “Bem gente, boa noite. Já que ele me colocou à venda, deixem que eu me apresente. Meu nome é fulana de tal e blablablá”. Puta mulher classuda! O que ninguém consegue entender, mas ninguém mesmo, é o que ela viu naquele idiota. (Do livro novo: "Você me deixe, viu? Eu vou bater meu tambor!)

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