Marina Silva, minha candidata em 2010.

Quando escrevi o artigo “As patas do Norte não encontrarão pulgas no Sul”, postado aqui no blogue em 06 de maio de 2009, não imaginava que minha declaração de voto em Marina Silva pudesse tornar-se realidade. Era então um desejo, um sonho, e como não tenho acesso a informações privilegiadas por bola de cristal ou partidos políticos, fundamentais nas democracias representativas, concluo que minha intuição política é que está em boa forma. Na semana passada fui tomada pela alegria da vitória quando vi o rosto de Marina estampado na capa dos principais semanários do país. Marina Silva, uma mulher negra da Amazônia, de caráter impoluto (sobre poucas pessoas diria isso), de sorriso franco. Estive com ela frente a frente pela primeira vez no aeroporto de Brasília, enquanto aguardávamos uma conexão super lotada para Belém. Como sempre acontece quando encontro meus ídolos, não sei como me aproximar, quando acho um jeito, eles já foram. Como podem imaginar, nem a cumprimentei. Quando fomos pegar as malas em Belém, ouvi a voz dela atrás de mim – era o segundo momento em que o rosto da sorte se apresentava, não poderia perdê-lo. Respirei fundo e depois de muito ensaio disse “Marina”... “Sim”, ela respondeu sorrindo. Eu, estática, não disse mais nada. Não falei da chuva, do Fórum Social Mundial, não disse que estava encantada em conhecê-la, que tinha por ela uma admiração maior do que a Amazônia. Não disse nada. Ela, provavelmente familiarizada com esse tipo de gente, estendeu-me a mão e disse: “muito prazer, Marina”! Eu apertei a mão dela e continuei muda. Ela me deu dois beijos, sorriu de novo, soltou minha mão e continuou a conversa com um rapaz que a acompanhava. Quando, emocionada, encontrei Corina e Marcelo, os amigos que me aguardavam para dez dias de férias na casa deles, comentei sobre meu travamento no contato com Marina. Recebi como resposta a foto recentemente tirada ao lado dela. Estou em campanha e trato de assimilar as contradições de minha candidata: a posição contrária à legalização do aborto e a postura escorregadia quanto aos direitos de gays e lésbicas. Mas o Gabeira vai trabalhar isso com apuro, tenho certeza. Aliás, de público, parabenizo sua grandeza por reconhecer em Marina, melhores condições políticas para levar o PV à Presidência do que as próprias. O sucesso surpreendente da campanha de Gabeira ao Governo do Rio de Janeiro, que fez muita gente descrente da política passar a acreditar, ou voltar a acreditar em algo, poderia elevar aos píncaros qualquer ego. Mas Gabeira demonstra sensatez e maturidade política ao investir na potencialidade, na biografia e na representatividade política de Marina Silva. Tenho também uma ou outra discordância em relação à minha candidata, a principal delas é quanto à afirmativa de que o Governo Lula não investiu suficientemente na área social. Ora, que o Governo Lula a tenha abandonado à sanha do agro-negócio, em detrimento da sobrevivência ambiental da Amazônia e dos direitos dos povos da floresta, é inegável, Marina lutava sozinha, com isso concordo. Entretanto, é porque investe de maneira séria e competente na área social que o Governo Lula vem diminuindo o número de miseráveis e vem dando dignidade aos pobres. E por isso, este Governo continua a me representar e o Presidente Lula continua a ser o meu Presidente. Redistribuição de renda é outra coisa, também concordo, e vamos trabalhar para que Marina Silva arregimente base política, para além da base social conquistada pelo Presidente Lula e possa, assim, mexer nessa caixa de zangões. Creio que Marina constrói este discurso crítico à suposta precariedade do investimento social do Governo Lula, porque não pode dizer que o PT foi burro em não cogitar o nome dela para a Presidência e em lançar o nome Dilma Rousseff. Mas nós sabemos e podemos dizer: o PT foi burro. Marina é a novidade que precisávamos para, de fato, termos uma opção política. Eu votaria em Dilma como estratégia política para que em eleições próximas tivéssmos um homem negro como candidato à Presidência, Joaquim Barbosa, talvez. Agora eu tenho uma mulher negra para sonhar e por quem trabalhar, só minha intuição política percebeu isso, minha consciência estava distante de visualizar essa possibilidade. Fico imaginando a cara do Obama, quando Marina chegar lá. Se o Presidente Lula, este nordestino-mestiço-incomum, é o cara, o que dirá Obama de Marina Silva? Não sei, mas vou trabalhar muito para ver chegar esse dia. E enquanto ele não chega, atualizo a canção de 1989, quando até fiscal de apuração - eu que não gosto de atividade partidária -, cheguei a ser: passa o tempo e tanta gente a trabalhar, de repente essa clareza pra notar, quem sempre foi sincero e confiar, sem medo de ser feliz, quero ver chegar, Marina lá, brilha uma estrela, Marina lá, cresce a esperança, Marina lá, de um Brasil criança, na alegria de se abraçar! Marina lá, brilha uma estrela e cresce a esperança!

Comentários

Érica Peçanha disse…
O melhor do blog são os seus textos, Cidinha: os literários ou de conteúdo político-social.
Estou com você na campanha pela vitória da Marina.

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