CARTA ABERTA A CLAUDIO DANIEL

(Por: Ricardo Aleixo). "Caro Claudio Daniel, deixei de responder seu último email, de 24/02/10, por ter surpreendido nele – e nos anteriores, datados de 23 e 24/02 – uma atitude incompatível com o respeito que, a meu ver, deve pontuar a relação entre pessoas que atuam numa mesma área. No afã de cobrar de mim uma posição pessoal sobre a obra de Angélica Freitas (baseado no fato de que fui integrante da Comissão Julgadora da Bolsa Petrobras Cultural, concedida, na edição 2008/2009 do certame, à referida autora e a outros 16 poetas e prosadores), você concluiu, em face da minha indisposição para a polêmica inóqua, que "divergimos profundamente quanto à Inimigo Rumor e seus associados". Lembre-se que começou mal a história: mesmo já sabendo – posto que se trata de informação disponibilizada no site da Petrobras – que eu fiz parte da mencionada Comissão, você, matreiramente, me enviou email no qual solicitava minha “opinião” acerca da escolha do projeto de Angélica Freitas. Não caí em sua armadilha, e aí você fez pior: deu a entender, de forma paternalista, que acreditava ter sido eu “voto vencido” na Comissão. Como se esta fosse constituída por um bando de gente inescrupulosa – diferente da impressão que você parecia cultivar de mim, portanto. Em meus emails a você, defendi as escolhas da Comissão, a qual, volto a afirmar, desenvolveu seu trabalho do modo mais claro e honesto possível, ao longo de três reuniões/debates tão acalorados quanto cansativos, com pontos de vista sendo defendidos de forma até dura, por vezes, mas nunca sob a ameaça da imposição de algum consenso que não se estribasse na pertinência e na exequibilidade dos projetos apresentados para análise. O problema é que você, depois de dias sem tocar no assunto, resolveu partir para as insinuações, por meio de seu blog. Se já não era difícil identificar em sua estratégia de me forçar a emitir um parecer sobre Angélica Freitas o intuito de obter minha, digamos assim, "declaração de voto" na hipotética contenda entre você e os tais "associados" da Inimigo Rumor (contenda essa que, saiba, jamais conseguiu me interessar por mais tempo que o de um riso constrangido), sua resposta a um comentário deixado em seu blog ontem, dia 9/3, por uma pessoa que supostamente se chama "Claudia", mostra, positivamente, sua opção pela acusação leviana, em detrimento do debate aberto de ideias. Reproduzo um fragmento de sua resposta à pergunta “Por que toda essa inveja da Inimigo Rumor?”: “Claudia, não sinto inveja nenhuma dos poetas medíocres da Inimigo Rumor; tenho inveja de Ezra Pound, Cummings e Maiakovski. Minha crítica está no fato de eles imporem um monopólio na crítica literária, favorecendo os autores do grupo e silenciando sobre os autores que não pertencem a essa panela, além de distribuírem entre si prêmios como o da Petrobras, em que jurados ligados à Inimigo Rumor premiam poetas da Inimigo Rumor, entre outros exemplos. Esse monopólio é extremamente autoritário e não contribui em nada para a divulgação da diversidade de nossa poesia, que vai muito além dos patinhos de banheira de Angélica Freitas e similares.” Que você sustente sua oposição a qualquer projeto literário que destoe de suas convicções, eis aí um assunto que não me cabe discutir. O que não aceito, Claudio Daniel, é que você me inclua, por força de sua visão algo maniqueísta e autocomplacente, num “lugar” que jamais frequentei. Me orgulho, sim, de ter colaborado por duas vezes com a publicação editada por Carlito Azevedo (que considero um grande poeta e, no plano pessoal, um interlocutor dos mais sensíveis), como de resto colaborei com a Zunái, editada por você, e com muitas outras revistas, de recortes os mais variados, sem jamais declarar adesão integral a qualquer um desses projetos literários (e políticos), já que, por temperamento, como diria Murilo Mendes, não sou "homem de rebanho". Me incluir entre os integrantes de uma suposta “panela” que distribuiria “entre si prêmios como o da Petrobras” é, por essa razão, um golpe baixo, baixíssimo, indigno de um poeta como você, a quem tratei sempre com amizade, respeito e cordialidade, chegando mesmo a escrever sobre seu trabalho, de que sou leitor atento e interessado. Quando sugeri que trouxesse a público sua discordância quanto ao resultado da Bolsa Petrobras Cultural, você entendeu só o que lhe foi conveniente: que deveria continuar a atacar “a Inimigo Rumor e seus associados”, a pretexto de expor a fragilidade do projeto estético do grupo de poetas que você elegeu como "o eixo do mal" da poesia brasileira. E o que eu lhe sugeria – e vou repetir agora com todas as letras – era e é bem mais sério: como há dinheiro público em jogo, a discussão transcende o nível das preferências literárias e alcança o âmbito da ética. Logo, Claudio, só lhe resta, como cidadão consciente que provavelmente é, encaminhar denúncia formal ao Ministério Público, para que sejam investigadas as circunstâncias que envolvem o “GRAVÍSSIMO” caso em tela. A um homem como eu, que nada mais possui além de um nome honrado e uma trajetória artística e intelectual construída por esforço próprio - longe da zona de sombras da Casa Grande -, gestos levianos como o seu provocam mais do que um grande pesar: confirmo, aqui do meu quase-exílio voluntário na periferia de Belo Horizonte, a impressão de que eu talvez não tenha, mesmo, mais nada a fazer no tosco Big Brother Brasil em que se transformou a maior parte da blogosfera literária. Respeitosamente, Ricardo Aleixo. PS: Prova de que você perdeu completamente a noção de limites é que um novo post seu, também do dia 9/3, bate na mesma tecla, com a legenda: “Daniel Boone e seu amigo índio lutam contra a panelinha da Inimigo Rumor nos concursos da Petrobrás e nas resenhas da Folha de S. Paulo”. Provando, ainda, que é craque em “bater o córner e correr para cabecear”, como se diz no ludopédio, você inaugura os comentários de seu próprio post (e para que interlocutores, se você já concorda tanto com suas próprias ideias, não é?) para afirmar que não se trata “de implicância, nem de mera divergência estética ou conceitual”, mas que acha “GRAVÍSSIMO que apenas um grupinho detenha o monopólio na crítica literária dos jornais e nos concursos que envolvem dinheiro público, como o da Petrobrás [grifo meu], além da forte influência na universidade e nos meios editoriais”. Sobre a crítica literária, a universidade e os meios editoriais, nada tenho a dizer, mas reafirmo que é seu dever ético solicitar ao Ministério Público a investigação do possível emprego de recursos públicos para fins de favorecimento de grupos literários, com foco no Edital da Bolsa Petrobras Cultural, edição 2008/2009, de que eu, Ricardo Aleixo, apontado por você como um dos “jurados ligados à Inimigo Rumor”, participei da seleção dos projetos aprovados. Qualquer outra medida que você tomar demonstrará que sua indignação não passa de uma performance mesquinha e ressentida, motivada tão-só por uma mal contida tendência para a calúnia e a difamação".

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