Reinventando a tela



Escreva, escreva sempre, como souber ou quiser, em verso e prosa, mostre ao mundo quem você é e quem são vocês, quem somos nós.

Inaldete Pinheiro de Andrade
Por Charô Nunes

Somos mulheres negras e afrodescendentes. Blogueiras com estórias de vida e campos de interesse diversos; reunidas em torno das questões da negritude, do feminismo e da produção de conteúdo. Sujeitas de nossa própria estória e de nossa própria escrita,  ferramenta de luta e resistência. Viemos contar nossas estórias,  exercício que nos é continuamente negado numa sociedade estruturalmente discriminatória e desigual.
O racismo institucional e o mito da meritocracia garantem a distribuição nada democrática dos serviços de saúde e educação promovendo o adoecimento físico e emocional da população negra e afrodescendente; impedindo o acesso à tecnologia, aos recursos naturais e financeiros, aos espaços de poder como universidades e cargos de chefia. Desde a assinatura da lei áurea (grafada em minúscula de propósito) fomos condenados à subcidadania e marginalização.
Porém é a invisibilidade que naturaliza o racismo em suas diversas modalidades. Não estamos nas capas de revista, nas bancadas dos jornais, nos laboratórios, nos cargos políticos.  E apesar de algumas conquistas, ainda somos sub-representadas e estereotipadas nos discursos de beleza e moda. Prevalece o desinteresse em mostrar nossos rostos, nossos corpos, as questões que nos afetam, as tradições e manifestações culturais que nos representam.
Não por acaso, temos em nossa origem a Blogagem Coletiva Mulher Negra cujo objetivo foi a aproximação de discussões acerca do Dia da Consciência Negra e do Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher. O sucesso do projeto revelou não somente a existência de um grupo de blogueiras negras e afrodescendentes escrevendo muito bem e muito; mas também a necessidade de criarmos espaços de visibilidade para produção tão significativa.
Fazemos de nossa escrita ferramenta de combate ao racismo, sexismo, lesbofobia, transfobia, homofobia e gordofobia. Porém, também pretendemos ser uma comunidade; um espaço de acolhimento, empoderamento e visibilidade voltados para a mulher negra e afrodescendente.  Acreditamos que a troca de vivências e opiniões em função da negritude partilhada não é apenas desejável, mas um objetivo comum. Queremos celebrar quem somos, quem fomos e quem seremos.
Como espaço de discussão, festejaremos nossa afroascendência. Ressignificaremos o universo feminino afrocentrado através do registro nossas histórias, nossas teorias e sentimentos. Escrevendo, gravando e produzindo, construindo nossa própria identidade como mulheres negras e afrodescendentes. Mulheres de pena e teclado, reinventando a tela para que amplifique nossas vozes.


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