O dia seguinte à 4a manifestação contra o aumento do transporte público em São Paulo, 14 de junho de 2013


Por Cidinha da  Silva

Do meu trabalho, no Vale do Anhangabaú, deu para ver que a turma começou a tocar o terror pelos ares às duas da tarde. Helicópteros sobrevoando nossas cabeças instauram na gente um clima de guerra, desespero e desamparo.

Pela Internet via-se as pessoas sendo presas antes da manifestação, gente que nem sabia o que estava acontecendo.

Pela televisão, Datena faz uma pesquisa dirigida e dá com os burros n'água. As pessoas acham os protestos necessários com tudo o que eles possam vir a acarretar.
Ainda na Internet, jornalistas isolados chamam a atenção para o fato de que essa polícia truculenta vista ontem, destacada ontem, é assim todo dia nas periferias da cidade.

Essa polícia que dá tiros de bala de borracha a queima-roupa em jovens brancos comprometidos com aquelas pessoas para as quais o acréscimo de 40 centavos diários pesam no orçamento, em senhoras, também brancas, que caminham assustadas pelas ruas, buscando um lugar seguro, que toca o terror da dispersão militar à base de gases tóxicos a setores da população que ela sempre protegeu (de alguma forma), é velha conhecida dos jovens negros, dos manos e manas das quebradas e favelas.

É a mesma polícia que mata com balas de verdade por diversão, para disputar quem mata mais numa noite ou semana.

Pelas ruas, as pessoas aterrorizadas buscavam a segurança diária do metrô, hiper lotado porque foi dia de greve dos trens metropolitanos. Desoladas, jogavam-se nas escadas e corredores, aquelas que podiam esperar que o movimento das estações super lotadas diminuísse um pouco para seguirem rumo às casas.

Incrédulas e indignadas, muitas delas que nunca tinham ouvido a palavra vândalo, a incorporaram de imediato ao vocabulário para crucificar o povo da paz que luta pela justiça nas ruas da cidade.

No dia seguinte, na Itália, “uma vereadora da cidade italiana de Pádua, no norte do país, causou indignação nacional ao dizer no Facebook que Cecile Kyenge, primeira pessoa negra a ser ministra na Itália, deveria ser estuprada.

Dolores Valandro, do partido direitista Liga Norte, estava a referir-se a um texto de um site italiano chamado "Todos os crimes dos imigrantes", contando uma suposta tentativa de estupro de duas mulheres por um africano.

"Por que ninguém a estupra, assim ela entende como se sente a vítima desse crime atroz?", escreveu em maiúsculas a política sobre uma foto de Kyenge, ministra da Integração, que nasceu na República Democrática do Congo.

A frase rapidamente circulou nas redes sociais e foi parar nos sites de notícias. Pelo Twitter, Kyenge, de 48 anos de idade, dos quais 30 na Itália, disse que "esse tipo de linguajar vai além da minha compreensão, porque incita à violência e tenta incitar à violência pelo público geral".

Mais tarde, a ministra acrescentou que a agressão verbal foi "um insulto a todos os italianos".

Políticos de várias tendências recriminaram as declarações de Valandro, e um dirigente regional da Liga Norte disse que ela será expulsa do partido pelo seu comentário "inenarrável".

A vereadora desculpou-se mais tarde em entrevista a uma rádio e negou que a Liga Norte seja racista.”

Desnecessário concluir que a vereadora italiana e a polícia paulista (e brasileira, de um modo geral) bebem das mesmas águas contaminadas pelo totalitarismo.

Foto: Cecile-Kyenge, ministra italiana.

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