Sobre a luta de Domingo...



Por Fábio Mandingo


Vixe...vida é luta por sobrevivência. Feroz, sanguinária, assassina, cruel. 


Transformar essa expressão crua da sobrevivência em arte e estilo: arte marcial! É uma das tecnologias humanas que mais me encanta e impressiona. Tentar transpor em disputa esportiva, a guerra primal onde poderíamos ter nos acomodado, é pra mim também uma das tentativas mais louváveis do ser humano na Terra. Não por acaso, diversas inscrições egípcias mostram artes marciais, não por acaso as mais antigas gravuras chinesas sobre artes marciais, mostram pessoas de pele escura, no papel de professores. África Mãe de todas as tecnologias.

Dignidade física, coragem, lealdade acima de adversidades, equilíbrio, leveza, humildade que se põe acima de qualquer medo ou subserviência, elegância, são qualidades encontráveis em muitos dos Mestres de Artes Marciais, são qualidades que admiro e busco pra mim.

Me decepcionei muito com a postura de Anderson Silva na luta de domingo. O corpo às vezes previa as esquivas, as mãos moviam prevendo socos, rsrsrsrs eu, Imolê e Beto acordados na madrugada do Terreiro pra ver a luta, mesmo sabendo que a função começava dali algumas horas.

Perder, cair, ser derrotado, tudo isso faz parte do jogo, principalmente quando agente percebe que é jogo. Mas o irmão foi arrogante, tratou o adversário com desprezo, foi displicente, foi menos do que é. " Não se perde desse jeito", foi o primeiro pensamento que me veio à mente. É sim, milhões de Andersons e eu também, lutando junto e caindo desacordado com aquele murrinho fraco na ponta do queixo.

Anderson Silva é um campeão, o melhor de todos, a gente sabe disso. Um ídolo, um símbolo, e ele sabe disso. Um dos poucos popstars afrobrasileiros que apresenta orgulhoso na mídia a sua família preta. Um homem elegante, gentil, inteligente, tranquilíssimo num modelo de masculinidade equilibrado em um meio testosteronicamente exacerbado, a invencibilidade do Spider parecia nos dizer: é, você pode ser campeão assim!!! Muita pressão nas costas de um homem só, eu sei. Ele mesmo disse que perder foi tirar um peso enorme das costas e que agora poderia se dedicar à família. Será que o que eu queria é um campeão invencível e com Alzheimer, como Ali? Sei lá, esses caras são como Mano brown: AQUELE MANO QUE NÃO PODE ERRAR. 

Anderson Silva não sai menor, pra mim, dessa luta, pela história que construiu , mas errou, pra mim, por entrar no ringue com uma postura oposta à que sempre cultivou e que o manteve invicto.

MAS...MAS..., aceito sim, a dimensão Exuística percebida pela irmã querida Cidinha: "o risco quando dá certo traz alegria, quando dá errado, sabedoria." É sim, de verdade, "ousadia e alegria" que dão tempero à nossa vida quase sempre tão insossa. Cidinha, mais uma vez a sua pena me move, obrigado.

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