Sobre-viventes! Um livro para quem tem dendê!


Há que se ter domínio da linguagem para não se incorrer no pecado da pretensão. Precisa-se dominar o campo. Seguir o roteiro. Precisa a concepção de literatura. Sem vaidade deslumbrada. Um pro-jeto com caminho certo e direção. Profissional. De quem sabe dar um passo certeiro, pensando em outro. Para quem a crônica é mais um exercício de linguagem e expressão que, nesse caso, deslinda numa profusão de variedade estilística. Multiplicidade de estilo e unicidade de concepção fazem do sobre-viventes um livro único.
Aliás, este não é um livro escrito para os sobreviventes. Eles estão por toda a parte, é verdade. Têm voz e corpo. Recebem até homenagens, mas também a ironia cortante da navalha de Cidinha. Estão em tipos genéricos clivados pelo gênero e sexualidade. Estão na literatura, na política, no ativismo, em personagens de novela, no cancioneiro brasileiro. Estão, sobretudo, no perfil comum de muitos personagens, que pululam entre as linhas do texto, mas essas linhas não foram escritas para eles.
É um livro sobre viventes. Os que sabem viver e dão contorno à alma humana. Nada nobre. Nada mísera. Humana e só. Atravessadas pela flecha do racismo, da homofobia, da vaidade, do egocentrismo; atravessadas pela solidão – acuidade do viver nos tempos do agora. É um livro forte para um tempo frágil. Exige posicionamento – mérito maior da crônica. De-move. Incomoda. Seduz. Um livro para o qual não se derrama água morna. Livro pra quem tem pulso. Para quem inflama. Para quem explode. Pra quem tem dendê. Para quem ama (Eduardo Oliveira, no posfácio).

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