Lista: 12 das mulheres mais influentes na internet

Por Nathalí Macedo

Nós já sabemos que representatividade importa.
A escritora e historiadora Michelle Perrot o sabia desde o século XX, quando escreveu, com razão, que as mulheres foram, durante muito tempo, deixadas à sombra da história.
Perrot, que estudou o processo da crescente visibilidade das mulheres em todas as esferas, reconheceu que o domínio dos meios intelectuais sempre fora predominantemente masculino, enquanto às mulheres era reservada uma educação tradicional que consistia basicamente em serviços domésticos, costura e boas maneiras.
O resultado não poderia ser outro: homens escrevendo e protagonizando a história.
Não podemos olvidar a carga de parcialidade que pesa sobre o autor e sobre o intelectual, e faz com que nenhum dos seus produtos artísticos esteja isento daquilo que ele próprio escolheu ser, porque, naturalmente, colocamos muito de nós em qualquer coisa que façamos. A arte é uma expressão de nós mesmos, por mais clichê que possa parecer.
Agora, que o século XXI nos presenteia com escritoras, blogueiras, vloggers, atrizes, roteiristas, poetizas, etc., nós podemos e devemos consumir o que emana de nossas companheiras, porque nossas vozes estão também nas vozes de outras mulheres.
Nestes tempos sombrios, com mulheres e negras excluídas dos Ministérios, nesta oligarquia de homens brancos, a única saída para que não percamos o que já conquistamos é que nos escutemos.
Pensando nisso, preparamos uma lista com doze das mulheres mais influentes da rede. A ordem é aleatória.
1. Júlia Tolezano (Jout Jout Prazer)
A jornalista carioca Júlia Tolezano, de 24 anos, ficou conhecida como youtuber com o vídeo “Não Tira o Batom Vermelho”, de fevereiro de 2015, onde fala de um jeito leve, assertivo e bem-humorado sobre relacionamentos abusivos.
Desde então, Júlia, hoje com mais de 800 mil inscritos em seu canal (https://www.youtube.com/JoutJout), posta vídeos sobre os mais diversos assuntos.
Ela conta que não tinha pretensões de se tornar uma vlogger famosa, porque inclusive não é dada a planejamentos – a coisa toda aconteceu de maneira absolutamente natural, e, arrisco dizer, por uma razão óbvia: grandes talentos, cedo ou tarde, precisam ser reconhecidos.
Jout Jout reúne todas as características necessárias para ser uma das grandes vozes das mulheres nesta geração: fala simples e direta e temas pontuais – feminismo, racismo, assédio sexual – abordados com leveza.
Para ela, o curso de jornalismo não a ajudou com os vídeos. “Eu sou uma péssima jornalista”, conta, com uma humildade franca. Ela já foi convidada para um programa de televisão e recusou, porque sente que o seu trabalho faz mais sentido na internet.
Nós agradecemos.
2. Djamila Ribeiro
Djamila Ribeiro é uma das grandes representantes do feminismo negro da atualidade. Ela é feminista, pesquisadora na área de Filosofia Política, colunista da Revista CartaCapital e recentemente foi nomeada secretária-adjunta da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.
Em paralelo a todas essas funções, Djamila é, sobretudo, militante da causa da mulher negra, ministrando palestras e rodas de conversa em todo o país.
Em sua coluna (http://www.cartacapital.com.br/colunistas/djamila-ribeiro), ela aborda temas como racismo, fascismo, homoafetividade, cotas raciais e aborto.
A cereja no bolo dos textos de Djamila é a capacidade de relacionar questões modernas urgentes, nos trazendo a ideia necessária de que absolutamente tudo está interligado, como em sua última coluna (publicada no dia oito de junto) em que relaciona colonização e cultura do estupro.
Assim como Jout Jout, Djamila dialoga com o público de maneira simples e direta, mas com clara intenção de didatizar e teorizar as questões que aborda.
3. Clara Averbuck
Mais do que uma escritora, Clara é uma personalidade. Ler os seus textos me faz sentir confortável e, sobretudo, compreendida – do que uma mulher feminista precisa mais do que ser compreendida por outra mulher feminista?
Clara Averbuck personifica a coragem quando toca em assuntos delicadíssimos em um tom de confissão que nos faz concluir, com alívio: sim, nós podemos. Nós também podemos nos sentir cansadas de vez em quando, nós também podemos postar fotos de biquíni na internet, nós também podemos perder a paciência e a didática.
Ela escreve, enfim, textos que abraçam e são a própria compreensão do que é ser mulher no Século XXI. No http://claraaverbuck.com.br/ e http://lugardemulher.com.br/author/clara/.
4. Cidinha da Silva
A escritora e historiadora mineira Cidinha da Silva é autora dos livros “Racismo no Brasil e afetos correlatos” e “Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil”, “Cada Tridente em seu lugar”, “Os Nove Pentes D’África”, entre outros, além de blogueira e colunista dos portais Diário do Centro do Mundo, Fórum, Geledés, e no seu blog pessoal (http://cidinhadasilva.blogspot.com.br/)
Cidinha se auto-define, com razão, como uma escritora politicamente posicionada. Com uma escrita ácida e original, é considerada um dos maiores nomes da literatura afrodescendente.
Cidinha, prestes a completar dez anos de carreira, lança este ano o seu novo livro, “Sobre – Viventes!“, uma compilação de 41 crônicas.
5. Cynara Menezes
Cynara Menezes é a idealizadora do blog Socialista Morena, que, segundo ela mesma, é um espaço virtual de ideias e notícias com viés esquerdista. Mas também de literatura, música, cinema, HQ, humor, viagens.
Ela tem toda a razão: o blog – que acompanho há um tempo considerável – aborda com um senso crítico afiado os mais variados temas, e, principalmente, analisa com coerência e bom-humor o medonho cenário político atual.
A jornalista formada pela Universidade Federal da Bahia já transitou por diversos veículos midiáticos, como Jornal da Bahia: Folha de S.Paulo, Estadão, revistas IstoÉ/Senhor, Veja, Vip e Carta Capital, e é atualmente colunista da revista Caros Amigos e do próprio blog, é claro: www.socialistamorena.com.br
6. Bia Bagagli
Transativista e estudante de letras da Unicamp, Beatriz Pagliarini Bagagli escreve no Blog Transfeminismo (http://transfeminismo.com/) sobre feminismo interseccional relacionado às questões trans.
Bia foi a primeira mulher trans a solicitar o nome social na Unicamp, e desde então milita pela causa, abordando temas como feminismo trans inclusivo, não-binaridades, transfobia, política, democracia e preconceitos.
Com uma escrita direta e honesta, é um dos grandes nomes do transfeminismo atual e ratifica a importância da visibilização da mulher trans.
7. Tati Bernardi
Escritora, publicitária, redatora e roteirista paulistana, Tati Bernardi lançou este ano o seu último livro, “Depois a louca sou eu”, em que fala, predominantemente, sobre a sua experiência com o Transtorno de Ansiedade.
Tati é uma das minhas escritoras vivas prediletas porque consegue pegar o leitor pelo coularinho e não deixá-lo ir embora até que tenha terminado a última linha.
Eu, por exemplo, comprei um de seus livros e sentei-me no café da livraria para ler algumas páginas antes de levá-lo para casa, e, quando me dei conta, o livro havia acabado.
A escritora tem ainda mais uma coisa arrebatadora: ela não se leva muito a sério. Ler os seus livros é como sentar-se com ela para uma conversa de comadres. E mesmo tão leve e despretensiosa, Tati consegue alcançar o mais fundo de nossas almas.
Sinto falta de um pouco mais de ativismo em suas colunas, mas a falta de posicionamento – ela ainda fala timidamente de temas como política e feminismo – não é capaz de anular o seu talento.
Atualmente, escreve para a Folha às sextas (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/tatibernardi/).
8. Eliane Brum
Eliane Brum escreve com uma sofisticação que poucas conseguem alcançar.
Sofisticação, aliás, é o seu nome do meio, e eu não estou me referindo a uma sofisticação fútil: Eliane é sofisticada nas palavras e na visão de mundo (e ainda assim consegue ser absolutamente acessível).
Ela escreve com lucidez sobre política, aborto, religião e muitos outros assuntos tão complexos quanto estes.
Eliane é jornalista, escritora, documentarista e – com redundância e tudo – uma cronista de talento excepcional. Atualmente, escreve para o El Pais (http://brasil.elpais.com/autor/eliane_brum/a) e The Guardian (http://www.theguardian.com/profile/eliane-brum).
9. Lola Aronovich
Lola Aronovich é uma das mais antigas blogueiras feministas de que se tem notícias. Ela é professora da UFC, doutora em Literatura em Língua Inglesa pela UFSC e escreve desde 2008 em seu Blog “Escreva, Lola, Escreva” (http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/) sobre cinema, literatura, política, mídia, e, segundo ela própria, sobre o que mais lhe der na telha, mas também e principalmente sobre feminismo.
Por ser ativista feminista, Lola foi ameaçada de morte no final do ano passado, por um grupo de “defensores dos direitos dos homens” (pasmem) que divulgaram o seu endereço residencial e ofereceram recompensas para quem calasse Lola para sempre.
Felizmente, ninguém conseguiu calá-la, e ela continua nos agraciando com seus textos.
O blog “escreva, Lola, escreva” é uma espécie de depósito de impressões variadas acerca dos assuntos que interessam às mulheres. É como um olhar feminino sobre o mundo, do jeito mais simples e próximo de nós, mulheres, possível.
“Sou feminista desde a mais tenra infância. Tudo que escrevo, tudo que falo, reflete meus pontos de vista”, declara.
10. Marcia Tiburi
Márcia Tiburi ocupa o último lugar desta lista apenas porque alguém precisava fazê-lo (e eu absolutamente não racionalizei esta ordem), mas é dona da minha incondicional admiração.
Graduada em filosofia e artes e mestre e doutora em filosofia (UFRGS, 1999), Marcia publicou diversos livros de filosofia, dentre eles “Como conversar com um fascista”, sucesso de público e crítica.
Em um evento literário conduzido por ela e que tive o prazer de assistir, Marcia conta que a ideia do livro surgiu diante dos discursos autoritários por ela percebidos durante um jantar de natal.
Declaradamente feminista e de esquerda, ela tem participado ativamente dos acontecimentos políticos no país e fala sobre mídia, ideologia, política, poder, feminismo e qualquer outro assunto que lhe aprouver, e escreve atualmente na Revista Cult (http://revistacult.uol.com.br/home/category/blog-marcia-tiburi/).
Ainda no evento literário em questão – a saber, “Mulher com a palavra”, em Salvador – ela proferiu a frase que certamente será capaz de despertar a curiosidade do leitor em conhecê-la (se é que isto não já se deu):
“Toda mulher deveria ser feminista, mesmo que só por gratidão.”
11. Jandira Ferghali
A popularidade da deputada federal Jandira Ferghali (PSOL) na internet deve-se, certamente, ao modo como seus artigos dizem aquilo que precisa ser dito, sem a menor cerimônia e sem meias palavras.
Ela dá nome aos bois e fala em golpe, fascismo e ódio de classes com todas as letras, sem jamais perder as estribeiras – sim, as mulheres são boas nisso.
Ferghali escreveu nada menos que o texto em vigor da Lei Maria da Penha (Por essas e outras, ela me representa).
É possível acompanhar os artigos de Jandira aqui: http://sigajandira.com.br/site2/category/opiniao/
12. Renata Paskus
Renata é blgueira, modelo Plus Size e idealizadora do Blog Mulherão.
Suas dicas de moda são voltadas às mulheres acima do peso e, exatamente por isso, transcendem a própria moda:
O que Renata Paskus faz é empoderar mulheres, colocá-las de bem com seus corpos e com o seu peso e poucas coisas são mais importantes do que isto considerando os tantos padrões de beleza que nos são impostos (também e principalmente pelas próprias blogueiras de moda).
Ela escreve sobre moda plus size, beleza e cuidados no http://blogmulherao.com.br/.
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Nathali Macedo
Sobre o Autor
Colunista, autora do livro "As Mulheres que Possuo", feminista, poetisa, aspirante a advogada e editora do portal Ingênua. Canta blues nas horas vagas.

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