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Entrevista de Cidinha da Silva no Portal IG

Arte e resistência: programa promove debate sobre negros na produção cultural

Por Heloisa Cavalcanti , iG São Paulo | - Atualizada às

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Promovido pelo Itaú Cultural, "Diálogos Ausentes: O Negro na Arte" está acontecendo desde abril deste ano e terá seu último ciclo iniciado neste mês

O CEU Casa Blanca, localizado na zona sul da cidade de São Paulo, receberá neste sábado (15) a 9ª Mostra Cultural Cooperifa, que comemora 15 anos agora em 2016. O evento terá uma mesa do programa realizado pelo Itaú Cultural, o "Diálogos Ausentes: O Negro na Arte", para debater a participação das mulheres afrodescendentes no cenário literário nacional. O programa, depois de levantar debates sobre a representatividade nas artes visuais e artes cênicas, agora se encaminha para o seu último ciclo de debates, abordando a presença de negros no audiovisual e, neste sábado, na literatura.
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Cidinha da Silva será uma das mulheres que farão parte da mesa. Ao lado de Jennyfer Nascimento e Ana Maria Gonçalves, a escritora e historiadora buscará incentivar um debate em que o seu trabalho e de suas colegas sejam colocados em evidência. “A minha expectativa é que a população local apareça para conversar com a gente para que assim possamos mostrar parte do nosso trabalho e ver como as pessoas reagem a essas leituras”, afirma. Para ela, a literatura é uma forma de arte que tem se tornado muito importante nos últimos tempos, ainda mais em um momento nacional onde há uma grande disputa de narrativas.
“A partir dos anos 1990, a literatura, principalmente a periférica, tem produzido autoras e autores muito interessantes, que antes eram simplesmente a colocadas à margem de tudo, mas hoje têm feito um papel importante no contexto social brasileiro”, comenta.
A escritora Cidinha da Silva abordará a arte literária no debate de sábado
Reprodução/Facebook
A escritora Cidinha da Silva abordará a arte literária no debate de sábado

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A escritora, que também colabora com crônicas para o portal Fórum e o Diário do Centro do Mundo, conta que escreve sobre o que sente vontade, que o fato de ser mulher negra não deve reduzi-la a temas apenas voltados a este aspecto e que, inclusive, já trabalhou com literatura infantil.
“Nunca havia pensado em escrever literatura para crianças, mas tenho uma sobrinha que na época em que eu escrevi meu primeiro livro tinha 6 anos e ela ficava tentando ler a obra”. Cidinha explicou para sua sobrinha que o livro era para adultos, mas foi indagada pela criança. “Ela me perguntou: 'quando é que você vai fazer livro para crianças?'”. Assim, nasceram “Os Nove Pentes D’África” (2009), “Kuami” (2011) e o “Mar de Manu” (2011). Todos os seus livros, inclusive os voltados para o público adulto, permeiam a africanidade, que, segundo a autora, é a reinvenção do continente africano, é “tratar o mundo negro contemporâneo e a experiência negra nas Américas”.
A Mostra Cultural da Cooperifa é uma parceria de longa data com o Itaú Cultural. Há 9 anos eles trabalham com o coletivo, fazendo desde parcerias na FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) até saraus na Avenida Paulista. Segundo a produtora do Itaú Cultural, Jaqueline Santiago, a iniciativa é uma forma de fortalecer a discussão em diversos espaços. “É importante que cada vez mais sejam abertos espaços para essas mulheres discutirem a questão da representatividade. Acreditamos que essa seja uma ação que fortalece a discussão e abre espaço para as pessoas”, afirma.
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O valor pedagógico do debate

Os ciclos de debates do Itaú Cultural estão acontecendo desde abril deste ano e terão a sua última rodada, sobre o audiovisual, iniciada nesta sexta (14). A iniciativa se deu após a polêmica da exibição da peça “A mulher do trem”, do grupo “Os Fofos Encenam”, que possuía uma personagem de empregada doméstica com um ator pintando de preto, o chamado black face, que é uma forma de caricaturar os negros atribuindo-lhes estereótipos racistas. Depois do episódio, a instituição criou um Comitê Social, cujo intuito é focar no desenvolvimento do debate acerca de questões sociais tanto internamente quanto nas suas ações externas.
O resultado dos ciclos, até então, têm sido bem positivos. Segundo Jaqueline, no início o público estava bem receoso com o programa, mas atualmente é possível enxergar um processo educacional acontecendo nos debates. “É uma aula. Muitas pessoas reclamam da ausência dessas informações na sua formação e participar desses ciclos se torna um processo educacional, tanto para quem estuda arte, quanto para quem trabalha com arte. A inserção da produção negra no cenário nacional parte da mudança do olhar, de como essa obra é enxergada e conhecida”, afirma.

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